Sertão


Plantei
Semente de mim
que peguei no vento
Interrogação.
Um se de milagre.
Eu, pedra
Mineral, sem raiz
Flor de sal
Terra escura
Amarga
Olhos fechados
Boca aberta
Vibrando frequência
Ar em movimento
Reticência
Tinha seiva
Havia vida
Era mandacaru
Flores recolhidas,
Querendo desabrochar

A primavera há de chegar
Também nesses sertões.

Outras bodas

Não há beleza na poesia
Nenhuma beleza no verso
Rasgado de solidão
Não há outra, não mais
Só o tempo
Roendo feito traça
Os vestidos amarelados
Os vestidos perdidos
Os vestidos sonhados
Os vestidos que nunca couberam
No peito calejado

Histórias que se repetem
Num ciclo ancestral
De lágrima que finge que é força
E de tanto fingir, se crê forte
Maldição sem sagrado
Sem erva de cura
No amargo que não finda
No abraço que não vem.

Virá libertação
Quando escolhermos
parar de esperar.