Linhas ao meio-dia

Charge Daylson

Raciocínio lento. Almoço rápido. Pensamentos que não conseguem se organizar no ambiente acima dos 100 graus Celsius. Tudo é pressa para alcançar o tempo. Na farmácia receitas em várias cores. Entre assinaturas para controle dos pólos variantes observo as clientes do Programa Farmácia Popular. Perfil de quem fala mal do governo. Encontro meu preconceito. Penso nas pessoas beneficiadas com os remédios gratuitos. Assino receitas. Há protocolo. Desvio dos carros. Há pressa em todos os lugares. Encontro o preconceito dos outros. O tempo não perdoa, segue antes de nós que nos movemos em câmera lenta. As obrigações se avolumam. Esqueci os exercícios da psicologia. O equilíbrio cozinhando acima do ponto de ebulição. Meu cabelo que não toma forma. Acompanha a fluidez do que penso aquela hora. A tendinite castiga o lado esquerdo. Um homem atravessa correndo na frente do carro. Um pequeno trapo branco lhe impede o nu frontal em meio ao caos do trânsito na W3. Segue correndo, descomposto. Penso se é fruto da minha imaginação ou se sua invisibilidade se deve a sua cor, a um possível vício, a sua condição social ou simplesmente à pressa que envolve aquele formigueiro de humanos. O sinal vermelho. A ansiedade silenciosa rodeando tudo. Estou atrasada. Há tantas tarefas inacabadas. Há tanta expectativa infundada. Há tanta cobrança velada. A pressão. A pressão! Por um segundo olho para o inconfundível céu azul de Brasília. Pequenas nuvens mancham de branco a imensidão celeste. São ovelhinhas saltitando ao meio dia luminoso do Planalto Central.